O acidente com césio-137 em Goiânia: como o descuido na hora de descartar um material radioativo levou ao maior acidente radiológico do mundo.

O acidente com césio-137 em Goiânia: como o descuido na hora de descartar um material radioativo levou ao maior acidente radiológico do mundo.

Antes de iniciar o texto é importante lembrar que: Os acidentes nucleares estão relacionados com sinistro em plantas ou reatores nucleares, enquanto os radiológicos estão relacionados com falhas de manipulação ou descarte irregular de fontes radioativas.

“O acidente com césio-137 que ocorreu em Goiânia, no ano de 1987, é o maior acidente radiológico do mundo. Dados oficiais apontam a morte de quatro pessoas em decorrência da exposição aguda ao elemento.

O césio-137 foi retirado de um aparelho radiológico abandonado do antigo Instituto Goiano de Radiologia que posteriormente foi vendido a um ferro-velho. A partir daí, seu brilho azul fez com que ele se tornasse uma atração para diversos moradores da cidade. Aos poucos, contudo, eles perceberam o quão nocivo aquilo era, necessitando-se de rígidos protocolos de tratamento e de descarte da amostra radioativa.”

 

Tópicos deste artigo

  1. Resumo sobre o acidente com césio-137 em Goiânia
  2. Videoaula sobre césio 137: o maior acidente radiológico do mundo
  3. História do acidente com o césio-137 em Goiânia

Resumo sobre o acidente com césio-137 em Goiânia

  • O acidente radiológico com césio-137 ocorreu na cidade de Goiânia, capital do estado de Goiás.
  • A exposição ao césio-137 teve início em setembro de 1987, quando um aparelho radiológico abandonado do Instituto Goiano de Radiologia foi rompido.
  • A cápsula contendo o elemento radioativo foi vendida a um ferro-velho, o que fez com que ela transitasse nas mãos de diversas pessoas.
  • Após a identificação da amostra radioativa pelas autoridades, os afetados foram submetidos a rígidos protocolos de tratamento.
  • Centenas de locais necessitaram de desinfecção, e uma nova cidade foi criada para alocar os rejeitos.
  • Trata-se do maior acidente radiológico do mundo, com dados oficiais apontando quatro mortes (Maria Gabriela Ferreira, Leide das Neves Ferreira, Israel Baptista dos Santos e Admilson Alves de Souza).

 

Videoaula sobre césio 137: o maior acidente radiológico do mundo

História do acidente com o césio-137 em Goiânia

Uma disputa entre o Instituto Goiano de Radiologia (IGR) e a Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP) provocou a venda do terreno em que se localizava o IGR para o Instituto de Previdência e Assistência do Estado de Goiás (Ipasgo).

Ao conseguir um novo endereço, o antigo inquilino deixou para trás todo o seu mobiliário, incluindo uma máquina radiológica contendo uma cápsula com o isótopo 137 do elemento químico césio (137Cs).

Em maio de 1987, o Ipasgo começou a demolir o prédio presente no terreno, até que uma liminar da Justiça determinou a suspensão das obras. O prédio então ficou ali, parado, com o aspecto de abandono, sendo invadido pelo mato, mas com a cápsula de 137Cs intacta.

Até que no mês de setembro, Roberto dos Santos Alves e Wagner Mota Pereira, dois moradores do Bairro Popular, próximo ao local em que estavam as ruínas do IGR, decidiram adentrar as instalações em busca de materiais que pudessem lhes render algum provento. Os moradores encontraram então o maquinário radiológico com a cápsula de césio, que pesava cerca de 100 kg, e então levaram-no para a casa de Roberto.

Lá, ambos removeram o invólucro de chumbo e perfuraram a placa de lítio, expondo assim a amostra radioativa, de 91 gramas, sendo 19,26 gramas apenas de cloreto de césio. Assim, Roberto e Wagner se dirigiram a um ferro-velho, cujo dono se chamava Devair.

As peças foram vendidas no dia 18 de setembro de 1987, e o dono do ferro-velho percebeu, à noite, um brilho azul fascinante advindo daquela cápsula. A partir daí, Devair começou a fazer circular, entre parentes, vizinhos e amigos, a cápsula que emanava o lindo brilho azul. Mal sabiam os moradores daquela região que a substância ali manipulada era altamente perigosa.

Materiais radioativos devem ficar acondicionados em recipientes de chumbo.
Iniciou-se, então, o maior acidente radiológico do mundo. As partículas de césio começaram a se dispersar por ação do vento, contaminando o solo, plantas e animais. As pessoas que tiveram contato com o elemento começaram a se tornar fontes irradiadoras, contaminando hospitais e outros locais que frequentavam.

No dia 28 de setembro, a esposa de Devair, Maria Gabriela, começou a desconfiar que os casos crescentes de náuseas, perda de apetite, vômitos e diarreia, associados com fortes dores de cabeça e febre, poderiam estar ligados ao material trazido e admirado pelo seu marido.

Após convencer Devair, Maria Gabriela e um funcionário de seu marido, Geraldo Guilherme, pegaram um ônibus na tarde de 28 de setembro e levaram a amostra à Divisão de Vigilância Sanitária.

Ao pousar sobre uma mesa da recepção a amostra, Maria Gabriela explicou a um funcionário da Vigilância Sanitária, o veterinário Paulo, que a amostra era perigosa e havia sido extraída de um aparelho radiológico.

Paulo, então, achou prudente se manter distante da amostra e a deixou sobre uma cadeira velha no pátio das instalações da Vigilância Sanitária. Contudo, funcionários curiosos acessaram o local para observar o material misterioso, sem saber da sua periculosidade.

O físico Walter Mendes Ferreira atendeu a convocação da Vigilância Sanitária para avaliar a cápsula entregue por Maria Gabriela, e os níveis de radiação eram tão altos que o aparelho atingiu o limite de sua escala na primeira leitura, demonstrando não ser capaz de mensurar a radiação presente.

Walter sequer acreditava e precisou trocar de aparelho para ter certeza de que se não tratava de uma falha. O Corpo de Bombeiros, ainda sem saber sobre do que se tratava, pretendia jogar a amostra no rio Meia-Ponte, quando foi interrompido, aos gritos, por Walter, explicando então do que se tratava aquela amostra.

A partir daí, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) foi avisada e iniciou o Plano de Emergência Radiológica, convocando médicos especialistas e pessoal de radioproteção, além de técnicos do Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD), do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), das Furnas Centrais Elétricas e da antiga Nuclebrás.

Além disso, deixaram de sobreaviso o Hospital Naval Marcílio Dias (HNMD), no Rio de Janeiro, até então o único no país com uma enfermaria especializada em contaminados por material radioativo. A Cnen também avisou a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) sobre o acidente.

 

Por Stéfano Araújo Novais
Professor de Química”

FONTE: “Acidente com césio-137 em Goiânia” em: https://brasilescola.uol.com.br/quimica/acidente-cesio137.htm